Por: Mídiamax/Redação

Mulher lendo usando sistema braille. (Banco de imagem, Freepik)

Todo 8 de abril é celebrado o Dia Nacional do Sistema Braille, o sistema de leitura e escrita para pessoas com deficiência visual que foi criado há mais de 180 anos pelo francês Louis Braille. Em Mato Grosso do Sul, o método é usado por 44 alunos com cegueira e 183 com baixa visão que estudam na REE (Rede Estadual de Ensino), de acordo com a SED (Secretaria Estadual de Educação).

A data é anualmente comemorada por pessoas que conhecem bem a importância da acessibilidade e da comunicação. É o caso dos educadores Márcio Ximenes Ramos e Telma Nantes de Matos, moradores de Campo Grande.

No caso de Márcio, que é pedagogo, especialista em Educação Especial e Inclusiva, e cego desde os 14 anos, o braille é indispensável na alfabetização, no acesso à educação e à comunicação para pessoas com deficiência visual.

No Estado, ainda segundo a SED, livros didáticos são adaptados para atender às demandas dos estudantes com deficiência visual, que não utilizam livros em áudio ou em tipo ampliado.

“Durante minha reabilitação no Ismac (Instituto Sul-mato-grossense para Cegos Florivaldo Vargas), em 1995, tive meu primeiro contato com o sistema de leitura e escrita braille, que se mostrou fundamental para minha participação ativa no ensino comum. Por meio desse sistema pude realizar provas, atividades e escrever usando a reglete (uma espécie de régua usada para escrever em braille), tendo acesso real à leitura com as grafias das palavras”, detalha Márcio.

Fenômeno de ‘desbrailização’

Além disso, opções tecnológicas também têm sido crescentemente utilizadas. “Nas últimas décadas, os estudantes com deficiência visual têm optado pela utilização da tecnologia assistiva, engobando leitores de telas e conversores de textos. Desta forma, nos deparamos hoje com a situação denominada ‘fenômeno da desbrailização’”, considera, em nota, a SED.

Apesar disso, a secretaria afirma que o ensino usando o sistema braille não deixa de ser estimulado. “Há incentivo contínuo para a utilização da escrita e leitura no sistema braille, procurando também não restringir o uso da possibilidade anteriormente informada”, detalha o órgão.

Para Márcio, é preciso garantir que todas as crianças com deficiência visual tenham acesso ao sistema. “Este é um passo essencial para promover a inclusão e a igualdade de oportunidades no ambiente educacional. Meu objetivo ao compartilhar essa experiência é sensibilizar a comunidade sobre a importância do braille e incentivar medidas que garantam sua disponibilidade para todas as crianças que dependem desse sistema para alcançar uma educação de qualidade”, compartilha o educador.

A mesma opinião é compartilhada pela professora Telma Nantes de Matos, que também é pedagoga, e tem especialização em Metodologia da Educação especializada para o atendimento às pessoas com deficiência. Ela nasceu com uma mácula na retina e foi perdendo gradativamente a visão, até ficar completamente cega.

“Um dos maiores desafios é que haja cada vez mais profissionais que compreendam a importância do braille para as pessoas com deficiência, que livros didáticos e paradidáticos sejam produzidos, e que as tecnologias assistivas que vêm alinhadas com o sistema braille também sejam disponibilizadas”, reforça Telma, que atua na área da Educação dos Direitos Humanos e como subsecretária de Políticas Públicas para as Pessoas com Deficiência, da Secretaria de Estado da Cidadania, do Governo do Estado.

O ensino do braille e a necessidade de constante acompanhamento das alternativas tecnológicas, portanto, indicam um duplo desafio que se apresenta na formação das pessoas com deficiência visual.

Agente de mudança

Para ela, o braille precisa estar, literalmente, na mão das pessoas. “Acredito que o maior desafio que o Mato Grosso do Sul, que o Brasil tem, é proporcionar para as pessoas com deficiência visual as tecnologias para acesso à informação e à comunicação. O sistema Braille é um dos meios que vem aliado com diversas tecnologias que precisam estar nas mãos das pessoas com deficiência visual para que elas tenham acesso à informação e à comunicação”, completa.

Apaixonada por esse sistema de leitura e escrita, Telma conta como foi “mergulhar” no universo do braille e define: é fantástico. “Eu me emociono muito porque, para mim, foi o sistema braille que abriu as portas da informação e da comunicação. A partir do momento que eu aprendi, tive acesso às demais tecnologias, que é o computador, telefone e outros recursos, tantos outros”, compartilha.

“Quem promove o acesso à educação, à comunicação, à informação, é fundamental que reconheça o sistema braille como um sistema que é moderno e é um meio de acesso das pessoas cegas para que elas tenham autonomia de escrita e leitura. Então, viva o sistema braille!”, finaliza a educadora.

Márcio Ximenes e Telma Nantes. (Montagem, Câmara de Vereadores e Governo do Estado)